sexta-feira, março 17, 2006

Dica cultural

DENISE FRAGA LANÇA O LIVRO “RETRATO FALADO” EM BRASÍLIA E PARTICIPA DE BATE-PAPO COM O PÚBLICO, DE GRAÇA

Sucesso com o quadro no programa Fantástico, a atriz e escritora Denise Fraga é a convidada do projeto SEMPRE UM PAPO no debate e lançamento do livro “Retrato Falado”. O evento será realizado na próxima terça-feira, dia 21 de março, às 19h30, na Caixa Cultural (Setor Bancário Sul, Teatro da Caixa). A ENTRADA É FRANCA.

Informações: (61) 3414-9450 e www.sempreumpapo.com.br.

A atriz falará um pouco de como foi feito o livro e depois estará disponível para perguntas do público. Após o bate-papo, Denise Fraga fará uma sessão de autógrafos.

Sempre Um Papo com Denise Fraga
Dia 21/03/2006, às 19h30
Caixa Cultural – Setor Bancário Sul, quadra 4
Entrada Franca – (61) 3414-9450
Livro: Retrato Falado (Editora Globo)
Número de páginas: 296
Preço: R$ 39,00

quinta-feira, março 09, 2006

dia da mulher, comemorar?

Construindo um discurso perverso...

08.03.06

Quando comecei a ler os scraps do meu orkut não acreditei. Dezenas e mais dezenas de mensagens homenageando as mulheres. Tudo bem, hoje é comemorado o dia internacional da mulher. Contudo, o que me deixou perplexa foi o conteúdo de cada mensagem. Além dos habituais parabéns e felicitações os textos pintam uma mulher forte, destemida, poderosa, vencedora. Uma mulher que enfrenta TPM, gravidez, filhos, trabalho, e sai como rainha desta batalha diária. Uma mulher que é capaz de colocar o homem aos seus pés. Uma diva, uma prima-dona encantadora. Uma mártir que se libertou. Uma mulher conquistadora de espaços, direitos, guerreira. Uma mulher onipotente, que dá carinho, amor, cuida, vence barreiras. Uma mulher que dá a luz ao homem e por isso é quase suprema. Uma mulher que é inteligente, que conquista cada vez mais o campo dos homens. Uma mulher que suporta dificuldades, que carrega fardos, mas mantém a alegria, o contentamento e o amor. Uma mulher que sorri quando quer gritar; canta quando quer chorar. Uma mulher que luta por aquilo que acredita. Uma mulher que se ergue contra a injustiça. Uma mulher corajosa, que enfrenta leões, que é uma leoa. Uma mulher cheia de capacidades e cumpridora de muitos deveres. Uma mulher linda que malha para manter seu corpo e sua beleza. Uma mulher que desempenha infinitos papéis com competência. Enfim, uma mulher que pode tudo, porque dá conta de tudo. Pára. Pára tudo!!! O que é isso, minha gente? Esse é um retrato forjado da mulher. Um discurso para acreditarmos que somos as meninas superpoderosas. Para benefício de quem? Não somos robôs! Esse é um retrato que serve bem ao capitalismo, à produtividade, ao lucro, às novas tecnologias. Estamos sim nos tornando escravas e não conquistando direitos como se aparenta. Somos frágeis sim. Somos delicadas e sensíveis. Somos humanas e com muitas falhas, ainda bem. Onde estamos colocando nossa dignidade? Se somos tão espertas e inteligentes, como os discursos nos apresentam, por que estamos sofrendo tanto diante da vida que estamos levando? Que sabedoria é essa que nos adoece diariamente? Que liberdade é essa que rouba nosso tempo, nosso prazer? Você, mulher, está feliz com a sobrecarga de papéis? Que batalha é essa que queremos vencer? Você tem idéia do motivo pelo qual está lutando? Vamos acordar mulheres. O que estamos construindo ao repetir discursos de um poder que não detemos? Não se trata de guerra entre sexos, mas somos muito ingênuas isso sim. Ficamos lisonjeadas quando nos dizem que somos tão potentes, tão corajosas etc. Somos refém da nossa vaidade, dessa aparência ilusória que acreditamos possuir. A que preço? Qual é o custo dessa onipotência? Somos ainda aquelas que se alegram com uma rosa vermelha e que choram ao final dos contos de fadas. Quantas de nós estamos ensinando nossos filhos, meninos, a brincarem de casinha desde pequeninos, a cuidar da boneca, a lavar, passar e cozinhar? Depois reclamamos de maridos que não ajudam em casa. Decidam-se mulheres, o que vocês querem? O lar ou o mundo? Ah, queremos tudo, né! Ensinaram que somos super. Estamos repetindo e decorando um discurso perverso, estimulando uma autoflagelaçao. Para que, hein? Alguém pode me responder? Estamos cada vez mais sós, procurando uma auto-suficiência que nos coloca no açoite. E assim será enquanto acreditarmos em tudo que nos dizem, sem refletir se queremos ou não seguir por ali... Massas de manobra com o próprio consentimento. Isso sim é cruel. Viva o dia do ser humano mulher e suas diferenças, já marcaram a data? Essa eu quero brindar!


Luísa Rigolade

quarta-feira, março 08, 2006

Dia da mulher...

Mulheres perseguidas, sociedade ensandecida...

8 de março de 2006.

Hoje se comemora mais um “Dia Internacional da Mulher”. Reflito a importância de tão nobre data. Ao que parece as datas comemorativas são criadas com propósitos variados, algumas têm cunho religioso, outras servem para homenagear o profissional, têm aquelas para marcar dias de conquistas importantes, mas existem datas criadas especialmente para segmentos em exclusão social ou em alerta. Exemplos não faltam: Dia Internacional do idoso, Dia da Consciência Negra, Dia Mundial da Luta contra a AIDS, Dia Mundial do Antitabagismo, Dia Internacional Contra a Discriminação Racial. Pois pasmem, tem dia para tudo, ou quase tudo, é só conferir algumas curiosidades no site http://www.arteducacao.pro.br/comemorativas.htm#Janeiro .

Fico pensando qual mensagem esse evento quer passar? O que significa comemorar essa data? É um alerta sobre a importância da mulher na sociedade? É um segmento excluído que merece um dia para ser lembrado? Que homenagem é esta que o mundo quer fazer? Conta a história que o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, está intimamente ligado aos movimentos feministas que buscavam mais dignidade para as mulheres e sociedades mais justas e igualitárias. Foi a partir da Revolução Industrial, em 1789, que as reivindicações tomaram maior vulto com a exigência de melhores condições de trabalho, acesso à cultura e igualdade entre os sexos. As operárias da época eram submetidas a um sistema desumano de trabalho, com jornadas de 12 horas diárias, espancamentos e ameaças sexuais. Ainda nesse contexto, 129 tecelãs da fábrica de tecidos Cotton, de Nova Iorque, decidiram paralisar seus trabalhos, reivindicando o direito à jornada de 10 horas. Era 8 de março de 1857, data da primeira greve norte-americana conduzida somente por mulheres. A polícia reprimiu violentamente a manifestação fazendo com que as operárias refugiassem-se dentro da fábrica. Os donos da empresa, junto com os policiais, trancaram-nas no local e atearam fogo, matando carbonizadas todas as tecelãs. Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres, realizada na Dinamarca, foi proposto que o dia 8 de março fosse declarado Dia Internacional da Mulher em homenagem às operárias de Nova Iorque. A partir de então esta data começou a ser comemorada no mundo inteiro como homenagem as mulheres.

Passados quase 150 anos da tal greve americana, a situação da mulher continua caótica. Se antes havia uma necessidade de direitos relativos ao trabalho, parece que atualmente há uma premência por direito à feminilidade. Sim, isso mesmo, feminilidade. Qualidade ou caráter de mulher; atitude feminina; fêmea, mulher. Redundante? Acho que não.

Se analisarmos que ainda hoje a maior responsabilidade, cobrança sociocultural, pelo cuidado e educação dos filhos ainda é da mulher, o que estamos fazendo para termos uma sociedade mais equilibrada e justa? Será que simplesmente reivindicar direitos iguais nos campos produtivo, cultural e social resolverá o problema? E a família? E a condição de ser fêmea, de ser mulher?

Sabe-se que muitas famílias neste século XXI são chefiadas por mulheres, e naquelas onde sobrevive a composição tradicional, homem, mulher e filhos, há a necessidade, em geral, de a mulher gerar “renda”. Não mais a do bordado, mas a do capital mesmo.

A mulher está sobrecarregada, isso é um fato. Onde quer que se pergunte à mulher como ela se sente nos dias atuais, a resposta será parecida. O estresse de cuidar casa, dos filhos, do mercado, da profissão, do trabalho, do marido, de si mesma e tanta coisa mais. Talvez seja da natureza feminina conjugar o verbo “cuidar”. Contudo, tem se tornado um fardo ser sujeito quase que exclusivo dessa conjugação. Não que o homem não esteja se tornando mais participativo no cuidado com os filhos, mas a realidade está longe de ser modificada.

Sejamos honestos: ainda é a mulher quem conduz o carrilhão da família. Lavar, passar, cozinhar, trocar fraldas, reunião de escola, termômetro, colo, repetir milhões de vezes sobre escovar os dentes, lavar as mãos, etc. Educar... Além disso tudo, ter profissão, ganhar dinheiro e ser mulher. Estamos em um ritmo de vida e de, praticamente, alienação que corremos de um lado ao outro sem parar para analisar onde vamos chegar com tudo isso.

Se a fêmea é quem tem o maior papel na criação e cuidados da prole (não basta parir), já diz o ditado “quem pariu Mateus que o embale”, que filhos são esses que estamos criando, uma vez que estamos com a vida tão estressada? Onde está a tranqüilidade, a paz, necessária para se educar com carinho, paciência e amor, quando precisamos correr contra o relógio, dar conta de tudo e viver a intolerância do dia-a-dia? Se as mulheres ficarem loucas de vez, que filhos resultarão dessa loucura?

Nós mulheres continuamos perseguidas e criando, por conta própria, uma sociedade ensandecida. Estamos sendo agora queimadas por nossa própria ignorância? Quando vamos parar? Ah, tem até Dia da Pizza e Dia da Mentira, nem sei mais que dia devemos comemorar...


Solange Pereira Pinto

Poesia - Ela disse não!



Deus criou o mundo, os homens as leis. E a mulher à luz deu.
Todos iguais perante a lei mas diferentes no dia-a-dia, seguem desafiando o destino.
Munidas de sensibilidade, há tempos lutam por direitos.
Conquistam seu espaço, repelem a violência. Constróem uma nova história.
Das cantigas de roda à ciranda do trabalho. De dona-de-casa à profissional independente.
Elas soltam o grito de liberdade que ecoa no novo milênio.

Emprestando seu corpo a gerar vidas
Dedicando seu tempo a educar seres
O nome dela é Cida

À esterilização coagida
Ela disse não!

Pré-natal, licença maternidade, amamentação
são direitos de toda mãe.
Cria filhos com amor e paciência
O nome dela é Patrícia

À relação sexual exigida pelo parceiro
Ela disse não!

Pílula anticoncepcional, DIU, aborto judicial
Evitar filhos pode ser o seu desejo
O nome dela é Madalena

Ao estupro e à violência sexual
Ela disse não!

Cuida da casa, vai ao supermercado,
administra a vida familiar, divide tarefas
O nome dela é Antônia

Ao cárcere privado
Ela disse não!


Elege prefeito, presidente, vereador
Exerce pelo voto a cidadania
O nome dela é Maria

Ao trabalho forçado e escravo
Ela disse não!

Mulher também pode ser eleita
Cada partido tem suas candidatas
O nome dela é Renata

À discriminação social e política
Ela disse não!

Profissional competente e responsável
Do secretariado à chefia
O nome dela é Sofia

A discriminação salarial
Ela disse não!

Advogadas, engenheiras, médicas
Escriturárias, serventes, operárias
O nome dela é Natália

Ao assédio sexual
Ela disse não!

Dedicadas, voluntárias, solidárias
formam grupos de apoio e assistência
O nome dela é Cilene

Aos maus tratos
Ela disse não!

Diz o que sente, manifesta seu pensamento
Tem liberdade de crença e consciência
O nome dela é Marlene

À censura e à tortura
Ela disse não!

A casa é asilo inviolável,
a intimidade, vida privada, honra e moral
são protegidas por lei
O nome dela é Susana

Às invasões de toda ordem
Ela disse não!

Previne doenças, faz acompanhamento médico,
sendo orientada resguarda a saúde
O nome dela é Odete

Aos cânceres de mama e útero
Ela disse não!

De alimentação, lazer, educação
moradia, trabalho, segurança,
não se abre mão
O nome dela Divina

À falta de liberdade e à miséria
Ela disse não!

À injustiça,

À submissão,

À violência,

À discriminação,

Aos abusos...
Ela disse não!


À cidadania

À saúde

Ela disse sim!


O nome dela é MULHER!

(Autora: Solange Pereira Pinto)

segunda-feira, março 06, 2006

Conto E dizia o vovozinho...

por Solange Pereira Pinto


Ele que achava que sabia alguma coisa resolveu passear em outras cidades. Morava num canto onde era mais um que sabia de alguma coisa, misturado com gente que sabia muito e com outros que nada sabiam. Na sua terra, a maioria era como ele que sabia nem muito, mas também sabia mais que nada.

Depois de andar muito encontrou uma vila onde ninguém sabia de nada. Resolveu por ali ficar uns dias. O povo, que não sabia de nada, vivia feliz conversando na pracinha da igreja. Acordavam junto com o sol e dormiam com as estrelas.
Dia após dia, eles ensinavam o nada que sabiam às crianças que nada de nada conheciam. Aquele que sabia de alguma coisa resolveu mostrar àquele povo que eles precisavam saber mais do que sabiam, pois como poderiam continuar a viver uma vida assim sem saber de quase nada? E começou a contar o que ela tinha visto e sabia.
De início uns ficaram entediados e outros, é claro, curiosos. Teve ainda quem ficasse revoltado com aquele estrangeiro. Os curiosos faziam parte daqueles que não sabiam de nada, mas queriam saber alguma coisa, pois essa coisa parece vírus, querer saber.
Em pouco tempo a vilazinha começou a ficar diferente. Era um tal de pergunta daqui e pergunta dali, que quem não sabia de nada não sabia o que fazer. Aquele que sabia de alguma coisa começou a ficar preocupado, pois não estava dando conta do rebuliço que causara e já não sabia o que fazer também.
Enquanto isso, na terra misturada de gente que sabia muito, com quem sabia alguma coisa e outros que nada sabiam, a situação não estava muito diferente. Os que sabiam muito falavam tudo que todo mundo devia saber e mesmo assim a confusão não era pouca. E quanto mais diziam que sabiam o que todos deviam saber, menos se sabia o que se devia fazer.
Gradativamente alguns foram mudando de colocação. Quem não sabia de nada já sabia de alguma coisa, outros achavam que mesmo sabendo de alguma coisa já sabiam de tudo, tinha a ala dos que sabiam alguma coisa antes e agora já sabiam de tudo também.
Porém, um fenômeno aconteceu, uns poucos dos que sabiam de tudo começaram a saber de nada. Achavam que eram uns farsantes, porque como é que eles que sabiam de tudo podiam não saber de nada? Conta-se que um deles virou monge para tentar decifrar o que aconteceu. Um outro parece que ficou louco mesmo.
Mas teve especialmente um que sabia de tudo até saber de nada, que era primo de outro que mais que todos sabia de tudo, que resolveu estudar o caso dos que sabiam de tudo, de alguma coisa, de nada. Dizem que antes alguns já haviam anotado as idéias dos que sabiam de tudo, quando eles mesmos não podiam ou não faziam sabe-se lá porque. Assim, lá foi ele ler tudo que estava escrito e ouvir tudo que tinha para ser dito.
Muitos anos se passaram e muitos cadernos foram preenchidos. Não eram poucas as teorias. O que assustava quem agora não sabia de nada é como ele tinha passado tanto tempo acreditando que sabia de tudo e dizendo para os outros o que devia ser sabido.
Lembrou-se que ensinaram para ele desde pequeno que precisava saber das coisas e ler e ouvir os que sabiam delas. Ele mesmo era um desses que ensinava quem não sabia de nada porque ele numa época sabia de alguma coisa e depois passou a saber de quase tudo. Claro, ele sempre percebeu que não sabia de tudo tudo, mas não podia contar para ninguém, pois essas coisas ninguém conta para ninguém. É um grande segredo.
Na vila de quem não sabia de nada, que fazia tempo fora sossegada, a notícia logo se espalhou que umas pessoas já não estavam sabendo direito o que sabiam. No caminho qual foi sua surpresa quando cumprimentava e quase ninguém lhe respondia. Estavam mudos! Até ele pensou em emudecer.
Mas o que adiantava calar se a cabeça falava o tempo todo? Ele não entendia o que estava lhe acometendo! Será que as outras pessoas não pensavam mais e por isso estavam mudas? Será que quem não sabia de nada não pensava e só falava? Tudo aquilo era um terrível mistério.
Ora, pensou ele: todo mundo pensa. Mas como é possível alguém nada saber e outro saber de quase tudo? Pelo menos era assim que ele via e ouvia o que diziam: tinha gente que sabia de tudo, tinha gente que não sabia de nada. Aquele que agora só lia e anotava e ouvia e anotava e não sabia de mais nada estava perdido em tanta anotação e pensamento tomado dos outros.
Ele já não sabia saber o que era dele e o que não era, porque ele agora que sabia o que outro dizia saber, sabia o que não sabia antes. Estava enlouquecendo pensava, mas ao certo não sabia se isso era ficar louco. Aliás, como saber se estava só pensando ou enlouquecendo? E pior, para que pensar tanto e saber tanto para descobrir que nada sabe e pensar ainda mais?

A tormenta estava longe de terminar. Os livros de história contavam que fazia tempo que os tempos eram assim, de gente pensando, de gente falando o que pensa, de gente que fala sem pensar e de gente que pensa e nada fala.
No ex-vilarejo de quem não sabia nada até chegar aquele que sabia de alguma coisa as coisas não demonstravam solução. O que se sabe é que uma parte de muita gente se arrependeu do dia que o estrangeiro lá chegou e que outra parte de muita gente já estava fazendo como o estrangeiro indo para outras vilazinhas sabe-se lá para que.
Ouvia-se pelos cantos que era um farsante aquele que sabia de alguma coisa, porque na verdade ele não sabia praticamente de coisa nenhuma e achava que sabia mais que quem não sabia de nada, que no fundo sabia sim de alguma coisa.
Milhares de anos se passaram. E continuava a mesma idéia daqueles tempos remotos. Gente que não sabia de nada, gente que sabia de alguma coisa e gente que sabia de praticamente tudo. Ou quase tudo, ou mais que todos os outros.
Ao que parece, anotou aquele que agora só lia e anotava e ouvia e anotava que a vida daquelas gentes não melhorou quase nada não, era o que ele pensava, e que continuava uma loucura anotar tudo que se sabia, mesmo que fosse a sabedoria de outro e não a própria e que na verdade nada era verdade. Mal se sabia o que se devia saber. O que se sabia não servia muito para todos ficarem tranqüilos. Se ninguém soubesse de nada como seria? E quem sabe sabe mesmo? Dizia um vovozinho: “Feliz é aquele que nasce burro, vive ignorante e morre de repente”... melhor não pensar... ninguém sabe de nada mesmo!

quinta-feira, março 02, 2006

Arte Digital


Manipulação fotográfica - Arte Digital - Solange Pereira Pinto - 2005

Arte - Reflexões


“A arte torna-se viva somente quando ela oferece uma estrutura teórica para questionamentos”.

Norman White
In: DOMINGUES, Diana. A arte no século XXI. A humanização das tecnologias. São Paulo: Unesp, 1997

“Mesmo na década de 90, pouquíssimos artistas descobriram que o computador é muito mais do que uma ferramenta. Uma ferramenta é um aparelho projetado para desenvolver uma série de funções muito particulares. Por outro lado, a funcionalidade de um computador não tem fim. Seu escopo total não é – e jamais poderá ser – completamente entendido, mesmo por quem o projetou. A noção completa do processamento de informação é uma cifra que se expande à medida que a consciência se expande, e sua total importância sempre está além do nosso entendimento. É como se nós, acidentalmente, nos enganchássemos na ponta do chifre de uma animal, no interior de uma labirinto existencial. Parte do problema está na própria palavra “computador”. O nome implica obstinação e resultados controlados. Seria muito melhor o chamarmos de ‘o espelho deformante da casa dos espelhos’ (fun-house mirror), o que nos remete à capacidade que o ‘computador’ tem de absorver nossa intenção e joga-la de volta para nós como uma metamorfose surpreendente. Potencialmente, esta metamorfose fornece uma ponte conceitual para um padrão completamente novo de pensamento e investigação”.

Norman White
In: DOMINGUES, Diana. A arte no século XXI. A humanização das tecnologias. São Paulo: Unesp, 1997

“A Arte é a base da vida, sem ela o homem não vive, pois ela está presente em todos os momentos existenciais do ser humano, tanto no que concerne à estética do cotidiano como à estética formal, pois o indivíduo convive em sua cotidianidade com esta relação dialética tendo a Arte sempre presente em sua vida em um determinado contexto sociocultural. Sob este prisma o ensino de Artes se notabiliza, pois é a mola-mestra para o desenvolvimento cognitivo e sensibilidade na formação acadêmica, seja na educação básica seja no ensino superior”.

Ayrton Dutra Corrêa
CORRÊA, Ayrton. Ensino das artes: múltiplos olhares. Ijuí: Unijuí, 2004

“Convidar é convocar, seduzir, despertar a atenção para um evento, no caso para imagens tanto do cotidiano como da Arte. Um convite pressupõe quem convida, uma pessoa ou instituição, quem é convidado e uma dada situação. Por isso, um convite ao olhar das crianças. De crianças pequenas que cotidianamente olham muitas imagens na rua, na escola, na televisão, mas pouco expressam o que pensam acerca dessas imagens.... Estudos da área da educação apontam a necessidade de propostas sistematizadas de possibilidades de leitura, incluindo imagens do cotidiano, programas televisivos e obras de Artes Visuais, a serem feitas desde a escola de Educação Infantil, de modo a propiciar uma visão crítica do mundo imagético. Assim, é importante refletir com as crianças sobre as imagens que elas vêem no seu cotidiano, ajudá-las a olhar e a compreender o que lhes é apresentado... A teoria de Piaget, ao tomar como foco a interação entre o sujeito e o meio físico ou social na construção de conhecimento, auxilia-nos a entender como a criança em interação com diversas imagens, atribui sentido a elas. O sentido vai ser dado pelo contexto social e cultural e pelas informações que o leitor possui. Ao olhar uma imagem a criança procura atribuir-lhe um significado, como uma forma de relacioná-la aos seus sistemas de significações”.

Analice Dutra Pillar
CORRÊA, Ayrton. Ensino das artes: múltiplos olhares. Ijuí: Unijuí, 2004

“As pesquisas de Parsons, ao investigarem o desenvolvimento estético, estabeleceram cinco estágios na compreensão das imagens: a) atração pela cor: associações livres; b) ênfase no tema: beleza e realismo; c) expressividade; d) organização e estilo da obra; e) interpretação difere de juízo. Nesses estágios o autor salienta quatro aspectos: o tema, a expressão, os aspectos formais e o juízo. Esta seqüência, representa uma descrição do desenvolvimento da experiência estética. Estas etapas, segundo o autor, sucedem-se numa ordem que não é arbitrária: é preciso que determinadas etapas estejam adquiridas antes de se passar às seguintes. Parsons (1992) diz que cada passo representa um avanço em relação ao precedente porque possibilita uma compreensão mais apurada da Arte. O ritmo com que cada indivíduo percorre esta experiência depende da natureza das obras de Arte com que entra em contato e do grau em que se vê estimulado a refletir sobre elas”.
Analice Dutra Pillar
CORRÊA, Ayrton. Ensino das artes: múltiplos olhares. Ijuí: Unijuí, 2004

“O fazer artístico é uma forma de criar, ordenar, configurar, articular e expressar dada realidade. Nesta experiência estão implícitas as configurações de vida dos indivíduos, pauatadas dentro de valores coletivos, e expressas desde uma materialidade própria, possibilitando, a partir das propostas das linguagens, alterações culturais e sociais de todo um grupo.”

Ayrton Dutra Corrêa
CORRÊA, Ayrton. Ensino das artes: múltiplos olhares. Ijuí: Unijuí, 2004

“A Arte nos permite sentir a dinâmica da própria vida, pois o que percebemos por meio dela não é uma simples e única qualidade emocional. Como nos lembra Cassirer (1972), a Arte transfere todos os sofrimentos e violências, crueldades e atrocidades em meios de autolibertação, dando-nos assim a liberdade interior que não pode ser alcançada de nenhum outro modo. Neste sentido, lembramos Maria Helena Andrés quando diz que o artista é a voz que se alteia mesmo que seja na mudez aparente da pedra, pois, como destaca Pereira (1993), ‘a Arte é a expressão de um sentir particular, externado por diferentes linguagens, decorrentes do simples fato de estarmos vivos, percebermos e nos inquetarmos”.

Ayrton Dutra Corrêa
CORRÊA, Ayrton. Ensino das artes: múltiplos olhares. Ijuí: Unijuí, 2004

“Cientes de que o homem, seja o artista ou o professor de Artes, é produto de sua época, desdobrando o seu ser social em formas culturais, consideramos que nessa interação-ação com o mundo o indivíduo Arte-educador-artista descobre novas qualidades, reconsiderando até mesmo valores culturais. Fayga Ostrower (1996) respalda essa situação lembrando que ao aprofundar certos conteúdos valorativos, ou ao afirmar certas necessidades de vida que são negadas dentro do contexto cultural, as soluções criativas que o homem encontra, concretizam sempre uma extensão do real. Ainda que formulem caminhos utópicos, partem do real”.

Ayrton Dutra Corrêa
CORRÊA, Ayrton. Ensino das artes: múltiplos olhares. Ijuí: Unijuí, 2004