quarta-feira, março 08, 2006

Dia da mulher...

Mulheres perseguidas, sociedade ensandecida...

8 de março de 2006.

Hoje se comemora mais um “Dia Internacional da Mulher”. Reflito a importância de tão nobre data. Ao que parece as datas comemorativas são criadas com propósitos variados, algumas têm cunho religioso, outras servem para homenagear o profissional, têm aquelas para marcar dias de conquistas importantes, mas existem datas criadas especialmente para segmentos em exclusão social ou em alerta. Exemplos não faltam: Dia Internacional do idoso, Dia da Consciência Negra, Dia Mundial da Luta contra a AIDS, Dia Mundial do Antitabagismo, Dia Internacional Contra a Discriminação Racial. Pois pasmem, tem dia para tudo, ou quase tudo, é só conferir algumas curiosidades no site http://www.arteducacao.pro.br/comemorativas.htm#Janeiro .

Fico pensando qual mensagem esse evento quer passar? O que significa comemorar essa data? É um alerta sobre a importância da mulher na sociedade? É um segmento excluído que merece um dia para ser lembrado? Que homenagem é esta que o mundo quer fazer? Conta a história que o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, está intimamente ligado aos movimentos feministas que buscavam mais dignidade para as mulheres e sociedades mais justas e igualitárias. Foi a partir da Revolução Industrial, em 1789, que as reivindicações tomaram maior vulto com a exigência de melhores condições de trabalho, acesso à cultura e igualdade entre os sexos. As operárias da época eram submetidas a um sistema desumano de trabalho, com jornadas de 12 horas diárias, espancamentos e ameaças sexuais. Ainda nesse contexto, 129 tecelãs da fábrica de tecidos Cotton, de Nova Iorque, decidiram paralisar seus trabalhos, reivindicando o direito à jornada de 10 horas. Era 8 de março de 1857, data da primeira greve norte-americana conduzida somente por mulheres. A polícia reprimiu violentamente a manifestação fazendo com que as operárias refugiassem-se dentro da fábrica. Os donos da empresa, junto com os policiais, trancaram-nas no local e atearam fogo, matando carbonizadas todas as tecelãs. Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres, realizada na Dinamarca, foi proposto que o dia 8 de março fosse declarado Dia Internacional da Mulher em homenagem às operárias de Nova Iorque. A partir de então esta data começou a ser comemorada no mundo inteiro como homenagem as mulheres.

Passados quase 150 anos da tal greve americana, a situação da mulher continua caótica. Se antes havia uma necessidade de direitos relativos ao trabalho, parece que atualmente há uma premência por direito à feminilidade. Sim, isso mesmo, feminilidade. Qualidade ou caráter de mulher; atitude feminina; fêmea, mulher. Redundante? Acho que não.

Se analisarmos que ainda hoje a maior responsabilidade, cobrança sociocultural, pelo cuidado e educação dos filhos ainda é da mulher, o que estamos fazendo para termos uma sociedade mais equilibrada e justa? Será que simplesmente reivindicar direitos iguais nos campos produtivo, cultural e social resolverá o problema? E a família? E a condição de ser fêmea, de ser mulher?

Sabe-se que muitas famílias neste século XXI são chefiadas por mulheres, e naquelas onde sobrevive a composição tradicional, homem, mulher e filhos, há a necessidade, em geral, de a mulher gerar “renda”. Não mais a do bordado, mas a do capital mesmo.

A mulher está sobrecarregada, isso é um fato. Onde quer que se pergunte à mulher como ela se sente nos dias atuais, a resposta será parecida. O estresse de cuidar casa, dos filhos, do mercado, da profissão, do trabalho, do marido, de si mesma e tanta coisa mais. Talvez seja da natureza feminina conjugar o verbo “cuidar”. Contudo, tem se tornado um fardo ser sujeito quase que exclusivo dessa conjugação. Não que o homem não esteja se tornando mais participativo no cuidado com os filhos, mas a realidade está longe de ser modificada.

Sejamos honestos: ainda é a mulher quem conduz o carrilhão da família. Lavar, passar, cozinhar, trocar fraldas, reunião de escola, termômetro, colo, repetir milhões de vezes sobre escovar os dentes, lavar as mãos, etc. Educar... Além disso tudo, ter profissão, ganhar dinheiro e ser mulher. Estamos em um ritmo de vida e de, praticamente, alienação que corremos de um lado ao outro sem parar para analisar onde vamos chegar com tudo isso.

Se a fêmea é quem tem o maior papel na criação e cuidados da prole (não basta parir), já diz o ditado “quem pariu Mateus que o embale”, que filhos são esses que estamos criando, uma vez que estamos com a vida tão estressada? Onde está a tranqüilidade, a paz, necessária para se educar com carinho, paciência e amor, quando precisamos correr contra o relógio, dar conta de tudo e viver a intolerância do dia-a-dia? Se as mulheres ficarem loucas de vez, que filhos resultarão dessa loucura?

Nós mulheres continuamos perseguidas e criando, por conta própria, uma sociedade ensandecida. Estamos sendo agora queimadas por nossa própria ignorância? Quando vamos parar? Ah, tem até Dia da Pizza e Dia da Mentira, nem sei mais que dia devemos comemorar...


Solange Pereira Pinto

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