segunda-feira, abril 07, 2008

blogs e transformações

07/04/2008
Nova geração perde a figura do 'eu'

Portais de blogueiros e páginas de marcas ou empresas mostram a transformação que o blog teve nos últimos anos


Quando começou a aparecer no Brasil, o blog estava muito voltado à figura do “eu”. O blogueiro falava de sua vida pessoal abertamente e era a figura principal da página – “evasão de privacidade” era um termo usado na época. Era mais do que um simples diário virtual: um espaço para escrever crônicas, poemas, resenhar livros e filmes, contar piadas ou simplesmente não falar nada com nada. Era assim com quase todas as pessoas que começaram a blogar entre 2000 a 2004 – e de certa forma continua sendo, pois o blog ainda mantém sua característica principal de dar voz para qualquer internauta.

Mas uma tendência que vem crescendo nos últimos anos são páginas temáticas e coletivas, cada vez mais a cara de sites! “Antes era o blog do fulano, agora é o blog do carro. A figura do blogueiro continua importante, mas a marca e posicionamento do blog vem se tornando outro elemento-chave”, diz Wagner “Mr.Manson” Martins.

“Vi outro dia um blog de um toca-MP3. O que ele vai postar? ‘Hoje apertaram os meus botões, ligaram o play e avançaram duas faixas. Aí meu dono entrou no ônibus e fez a coisa que mais odeio: me escondeu dentro da cueca para eu não ser roubado’”, brinca Ronald Rios (http://rockdeindio.com/fsp), de 19 anos – seis deles de blog.

Isso ocorre devido à profissionalização recente que acontece com essa ferramenta. Apesar de ainda ser uma mídia “descolada”, ter blog hoje é uma forma de negócio muito nova. Uma empresa que cria o blog de um celular, por exemplo, o fez para deixar o produto mais próximo do leitor.

Uma das principais razões que explicam o sucesso do blog no País é que ele sempre foi uma ação entre amigos. Sicrano leu o blog de beltrano, gostou e linkou a página dele em seu espaço. Aos poucos iam se formando grupos e panelinhas.

Um caso emblemático aconteceu com Clarah Averbuck. Quando ainda blogava no Brazileira!Preta, a escritora passou por dificuldades financeiras. Ela retratou isso no blog e até publicou o número de sua conta bancária caso alguém resolvesse ajudá-la. E não é que pintaram alguns depósitos? Outra vez, agora desempregada, ela escreveu que estava prestes a ser despejada de sua casa. Um leitor leu a história e emprestou um apartamento vazio para Clarah viver por quatro meses até ela descolar um trabalho.

Essa troca de favores ainda existe. Não são poucos os blogueiros que conseguiram algum emprego graças a outro blogueiro, ou que resolveu se unir com outro dono de blog para montar uma empresa. Afinidade é algo normal na blogosfera. O que anda acontecendo hoje de diferente é que antes essas oportunidades eram uma conseqüência, aplicadas ao mundo real. Dificilmente alguém montava um blog pensando nisso. Agora não – e as parcerias ficam cada vez mais restritas ao universo virtual.

Um bom exemplo são os portais de blogs, como o Blogamos (www.blogamos.com.br) e HiTech Live (www.hitechlive.com.br). Eles contam com vários blogueiros participantes e montam uma home page com os melhores posts de cada um.

“É uma tendência que tem se acentuado por três motivos: as pessoas acham mais divertido fazer parte de um coletivo, a exposição de seu site fica maior e as oportunidades de se obter alguma receita blogando é teoricamente maiores”, analisa Ruy Goiaba, que já foi do Wunderblogs e agora está no A Postos.

Algo que está se tornando comum são blogs que tratem de assuntos em comuns criarem parcerias entre si. No Sedentário e Hiperativo só é colocado na página o banner de outro site se ele for popular. “Trocar link e banners é algo muito importante, pois faz o seu leitor entrar em outro site, e vice-versa”, diz Bruna Calheiros.

“Nosso espaço é limitado. É injusto colocar o Jacaré Banguela, que é muito popular e nos ajuda, ao lado de um blog menor com poucas visitas. Damos destaque para quem nos destaca.”

Outra questão que exemplifica a teoria de que os blogs estão mais restritos ao universo da internet é a popularização das páginas pessoas de entretenimento, em que o blogueiro mostra aquilo que bomba na internet: uma notícia bizarra, um vídeo engraçado, a montagem de uma foto... Se os blogs antes eram mais geradores de conteúdo, agora estão mais para filtro.

“Eu montei um espaço para publicar os papos e idéias que surgiam no boteco com os meus amigos. A molecada agora, sem ser pejorativo, usa a internet como o seu boteco. É nela que se descobrem coisas novas e se troca idéias”, analisa Manson.

Um blog de sucesso nesse molde é o Ueba (www.ueba.com.br), que desde 2002 só indica links interessantes. “Ponho qualquer coisa que acho bacana e tenho algumas parcerias com outros blogs. Umas são comerciais, outras estratégicas”, analisa Gilberto Soares Filho, de 35 anos.

Essa realidade já tem os seus críticos – a geração mais antiga, principalmente. Quem deu uma alfinetada recentemente foi Edney Souza, o Interney. No mês passado ele lançou a ação Blogagem Inédita, onde qualquer blogueiro teve um mês para produzir um post de conteúdo relevante, em que ele mesmo apurasse as informações.

Foram 170 textos recebidos.
“Foi uma crítica aberta mesmo. Eu não vejo o pessoal com ambição para ser um blog de referência, lendo e pesquisando materiais de comunicação e novas formas de interagir pelo blog. Virou uma grande mesmice de copiar e colar”, provoca.

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