quarta-feira, janeiro 25, 2006

Resenha Amor em segredo

O que é mesmo fidelidade?


Resenha por Solange Pereira Pinto


Lançado em 2005 pela editora Agir, o livro Amor em segredo, de Sonia Rodrigues, traz crônicas autobiográficas que revelam o olhar da escritora, filha do amor e da “infidelidade” de Nelson Rodrigues, sobre abordagens variadas do tema amor e sexo.

Na primeira parte da obra, a mais interessante na minha opinião, Sonia fala de intensidade, armadilhas, amor, infidelidade, fidelidade por obrigação, sobrevivência, cultura de segredos, família, transgressões, perversões. Enfim, discorre sobre a gama de situações que envolvem as relações e o amor entre homem e mulher e família.

A autora também repete quanto a sua vocação para a escrita e logo no segundo texto adianta “é bom sobreviver às histórias, mas o melhor mesmo é ter o que contar”... “Se as pancadas não doessem, não precisaria transformá-las em palavras, em histórias...exorcizo os tigres com a palavra. Às vezes, ganham eles. Outras, ganho eu...quando a gente sobrevive, as recordações ficam divertidas”. Amor em segredo é de leitura rápida, estrutura e linguagem simples, para quem gosta de autobiografia em forma de crônica e devaneio.







Trechos do livro:

“Não sei o que é pior. Amar muito e se machucar ou amar certo e não se machucar. Voltando ao meu pai, à minha origem apaixonada: no amor a gente não faz o que quer, faz o que pode.”

“Só isso. Amar quem a gente quer amar, trair quando trais é a única alternativa, contar histórias para sobreviver a elas.”

“Preciso menos de quem me traduza a vida. Mas ainda preciso de companheiros de versão.”

“Eu fui infiel naquela vez e, em todas as poucas vezes em que fui infiel às pessoas que amo, o fui porque minha sobrevivência estava ameaçada.”

“Compreender que, na prática do amor, é impossível seguir modelos. Comprovar que a fidelidade não depende da gente, e simj da pessoa amada. Reconhecer que a fidelidade por obrigação é uma virtude vil. É indigno, é vil ser fiel a quem nos trai, a quem não nos ama como achamos que merecemos ser amados. Por isso, me espanta quando as pessoas acreditam que podem amar mal e ser poupadas. Não são. Essas pessoas se enganam. Por trás, na surdina, as esposas, os maridos, os filhos, os amigos estão se vingando do desamor”.

“Descobri que é muito comum mãe e filha se combaterem até quase a destruição na nossa cultura e que, em certas rodas, é até de bom-tom falar da mal da mãe, atribuir à família todas as mazelas”.

“Aprendi que absurdos se justificam nas pessoas amadas e nos coitados”.

“Sei que é inútil culpar os outros por nossas marcas”.

“Conformada, não aprenderia a quantidade de coisas que aprendi, não freqüentaria ambientes diferenciados dos que freqüentam meus pares, não bateria de frente com a omissão de uns, a truculência de outros, as dificuldades e incoerência de pessoas próximas.”

“Hoje entendo, que, no esforço de ser fiel, eu me tornasse uma pessoa raivosa e controladora. Ninguém nega o seu inconsciente com impunidade”.

“A dificuldade dos transgressores de cuidar dos filhos que colocam no mundo”.

“O abandono na escrita é a única forma de se olhar para o abismo e deixar que o abismo olhe para dentro da gente. Sem cair.”

“Para esses lampejos do passado não ficarem presos, soterrados dentro de mim. Para não submergir, como meu pai, na repetição.”

“Minha vida era uma sucessão de renascimentos em que o passado ficava para trás e era perdido para sempre.”

“Não acredito que seja impossível, mas eu não teria conseguido ficar em pé sem ajuda. Para mim, destacam-se as pessoas que ajudaram sem me colorar de joelhos.”


“Minha mãe é uma aficionada por silêncios, segredos, lealdades. Por um segredo, minha mãe sacrifica tudo. Inclusive os filhos”.

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