terça-feira, abril 08, 2008

MARCELO DUARTE: ELE É O GUIA DOS CURIOSOS

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Letícia Fagundes


Incrivelmente curioso e literalmente multimídia: assim é o jornalista Marcelo Duarte, 43 anos, dono de uma trajetória de sucesso. Ele já passou por revistas como Placar, Playboy, Veja São Paulo e foi criador de jogos de tabuleiro como Tira-Teima, Master Junior, Perfil 3.

Para conferir a entrevista em vídeo com Marcelo Duarte, clique aqui.

Atualmente, ele apresenta o programa "Loucos por Futebol", na emissora de TV ESPN Brasil, "Você é Curioso?" e "Fanáticos por Futebol", na Rádio Bandeirantes, assina a página "Curiocidade", no Jornal da Tarde. Está na TV, no rádio, no jornal impresso, na internet - com o site www.guiadoscuriosos.ig.com.br - e ainda tem uma editora de livros para tomar conta! Ufa...

Marcelo é o fundador da Panda Books, responsável por publicações de referência e de todos os seus oito Guia dos Curiosos. A série inclui o primeiro, de tema geral, e os outros sete: Esportes, Invenções, Brasil, Sexo, Língua Portuguesa, Jogos Olímpicos e o mais recente: Guia das Curiosas, só "para mulheres e quem gosta de mulheres", segundo o próprio autor.

É muito trabalho, mas ele garante que é tudo muito prazeroso! Viciado em informação desde criança, quando devorava gibis e almanaques, Marcelo Duarte conversou com o Jornal Carreira & Sucesso. Uma entrevista sobre livros, novas tecnologias, língua portuguesa e, claro, muita curiosidade!

Jornal Carreira & Sucesso: De onde nasceu tanta curiosidade?
Marcelo Duarte: "Eu sempre fui um garoto curioso. Sempre perguntava para os meus pais os porquês disto, daquilo. Não me satisfazia só com aquelas explicações: ‘porque é assim, porque sim’. Acho que essa curiosidade despertou muito o meu interesse pelo Jornalismo. Eu achava que ia trabalhar num lugar que responde as perguntas, ser a pessoa que mata as curiosidades, estar nos lugares em que as coisas acontecem. Eu nasci curioso. Não xereta! Curioso..."

C&S: Desde bem pequeno já era assim? Seria uma questão de época, geração?
Duarte: "Eu até digo que tive muita sorte de ter nascido na época em que nasci, porque peguei um tempo em que a gente não tinha tanta disponibilidade de equipamentos tecnológicos que me afastariam dos livros. Então, não tinha Internet, TV a cabo, Ipod, tantas maravilhas. O que me possibilitou ter uma bagagem cultural muito grande. Mas, ao mesmo tempo, ainda sou jovem e vi tudo isso nascer, tudo isso que hoje a gente tem à disposição para facilitar nossa vida."

C&S: Tecnologia, esses jogos eletrônicos são bacanas, mas acabam tirando as crianças dos livros de papel, não é verdade? Você tem filhos, pode falar...
Duarte: "Eu acho que tira um pouco, sim. Depende muito. Mas, por exemplo, entre meus dois filhos mais velhos, um gosta mais de ler do que o outro. Depende da criança também. Se ela gosta muito de livro, gostou de ler e já pega outro, foi incentivada a ler, ela consegue ter prazer na leitura. Mas é evidente que hoje a oferta é muito grande. Quem é que diz que vai ficar cinco minutinhos na Internet e consegue? Eu lembro que antes, quando você perdia um programa de TV, as suas chances de rever eram praticamente nulas. Hoje, tem gente que até prefere ver televisão na Internet porque já entra nos blocos que quer, não precisa ver o comercial. Fica “on demand”. É tudo muito sedutor. Mas tem gente que acaba ficando preguiçosa por causa da tecnologia."

C&S: É muita informação disponível. Até que ponto isso é legal? Porque a gente sabe tudo, mas não sabe nada, né...?
Duarte: "Virou uma demanda de informações que não têm relevância nenhuma. Hoje, as pessoas acham que lendo a capa de um portal de notícias estão bem informadas. É uma falsa impressão. E quando você tem essa oferta muito grande, o tempo passa a ser uma riqueza sua. Então, você tem de aproveitar muito bem o seu tempo. Cada vez mais há um stress moderno. Você sempre tem a sensação de perda de tempo. Quem sabe administrar seu tempo hoje é uma pessoa mais feliz."

C&S: Tanto é que existem muitos consultores de gestão do tempo. Hoje o tempo vale mais do que no passado?
Duarte: "É. E agora o tempo está muito ligado à qualidade de vida. A pessoa que perde muito tempo no trânsito para ir ao trabalho tem uma qualidade de vida pior. Isso conta. É o que vai determinar depois o tempo que você vai dedicar para a sua família, o tempo que você vai ter para as suas leituras, para o seu lazer. O que me assusta é que tem gente que ainda não percebeu essa questão. Elas marcam reuniões em horários que elas sabem que não vão estar lá, elas não determinam horários de fim de reuniões. Perdem muito o foco, se dispersam. As pessoas ainda lidam muito mal com o tempo. Hoje a gente tem campanhas pela preservação da água, das florestas. Daqui a pouco a gente vai ter pela preservação do tempo. (risos)"


C&S: Vamos falar um pouquinho sobre o Guia dos Curiosos. Você é o autor da série, que tem títulos sobre Esportes, Língua Portuguesa e outros temas. Recentemente, você lançou um especialmente para as mulheres. Você falou que sempre foi um garoto muito curioso, mas quando foi esse “insight” de lançar o 1º Guia?
Duarte: "A história é ligada um pouco a esse meu fascínio por coisas diferentes. Eu queria fazer alguma coisa diferente nas minhas reportagens. Eu não queria que as minhas reportagens fossem reportagens comuns. Sempre procurava por alguma coisa de humor, algo engraçadinho. E então eu comecei a colecionar as curiosidades que eu colocava nas minhas reportagens. Se todo mundo estava falando dos problemas dos assentos nos aviões, eu entrava no avião com uma fita métrica para tentar medir para ver se a distância que a companhia aérea declarava era verdadeira ou não. Fui fazer uma reportagem sobre uma cadeia de pizzaria americana que chegou a São Paulo e fui medir a borda da pizza para ver quantas empilhadas dariam a Torre de Pisa. Eu guardava aquelas informações, mas não sabia exatamente para quê. Aí um dia eu olhei uma daquelas prateleiras lindas de livros que ninguém mexe. Vi lá: "Enciclopédia Curiosa", uma coleção de 1962. Era um almanaque antigo, mas meio desatualizado. Tinha um capítulo que dizia assim: 'será que o homem um dia chegará à Lua?' Uns professores dizendo que não...achei engraçado. E aí eu pensei: por que eu não faço uma releitura disso? Não tinha nada no mercado de almanaque. Então veio o estalo de fazer o Guia dos Curiosos."

C&S: Você mesmo ia buscar essas curiosidades?
Duarte: "É. A gente está falando de uma época que não existia Internet. Era um trabalho de ir a arquivos de jornais, fazer entrevistas, arquivos de revistas. Por exemplo: eu queria colocar os nomes de todos os filhos de todos os Presidentes da República do Brasil. Aparentemente, poderia parecer uma coisa simples. Mas não. Começou um trabalho de investigação muito grande. Procurei em enciclopédias e algumas traziam alguns nomes, algumas não. Liguei para parentes de presidentes da República, falei com filhos de presidentes já velhinhos. Virou um quebra-cabeça. Era todo um trabalho para ficarem quatro páginas em um livro de 600!"

C&S: Como você escolhia os temas? Porque 600 páginas, é muita coisa...O que fazia você falar: isso vai entrar, isso não...?
Duarte: "Eu confesso que isso é uma coisa totalmente egocêntrica (risos). Como vai me dar muito trabalho, tem de dar muito prazer também. Por isso eu procuro escolher temas que eu gosto muito. Depois do primeiro, que era geral, eu fiz sobre Esportes, que eu gosto muito. Depois fiz Invenções, que eu adoro. Sexo, Língua Portuguesa, um dos meus preferidos..."

C&S: O mais recente, lançado no dia 8 de março de 2008, Dia Internacional da Mulher, é o Guia das Curiosas. Você lembra de cabeça alguma curiosidade bacana para contar pra gente?
Duarte: "É engraçado como às vezes a gente passa anos com uma dúvida e nunca tira, né? Eu sempre notei que os botões das camisas dos homens são do lado direito e os botões das camisas das mulheres são do lado esquerdo. Você já parou para pensar nisso? É uma tradição. É assim: vamos pelo lado do homem. A maioria da população é destra e por isso os botões das camisas dos homens ficam do lado direito para facilitar a entrada do botão na casinha. Mas a maioria das mulheres também é destra. Por que não, então? Mas isso é do tempo em que as mulheres eram vestidas pelas damas de companhia. Então, alguém ficava de frente para a mulher com a mão direita e por isso era mais fácil que o botão ficasse do lado esquerdo. Também tem explicação o fato das mulheres nunca irem sozinhas ao banheiro. Tudo tem explicação histórica."

C&S: Você falou que o Guia da Língua Portuguesa é um dos seus preferidos. O que você está achando dessa reformulação na Língua, que deverá ser implantada a partir do ano que vem?
Duarte: "A gente tem preguiça de aprender tudo de novo, né? Resolveram fazer uma coisa sem consultar a sociedade. Eu estou meio apreensivo. Tem tanta deficiência de ensino hoje em dia e eu não sei se é tão importante assim mudar a Língua agora."


C&S: E este ano de Olimpíadas, em Pequim. O que você está preparando? Algo especial?
Duarte: "Eu vou relançar o "Guia dos Curiosos - Jogos Olímpicos", com um capítulo dedicado à última Olimpíada, de Atenas. Eu sou muito fã de Jogos Olímpicos. Cobri 88, em Seul, Atlanta/96, Atenas/2004, e, se tudo der certo, estarei em Pequim. O evento em si é uma coisa maravilhosa. Primeiro porque reúne de fato os melhores atletas de todos os esportes. Mas o que mais me chama atenção é você ver gente do mundo inteiro num lugar só. Em Atenas, eu lembro. No metrô eu virava e via um cara de Madagascar, do outro lado alguém do Japão, do outro da Jamaica. O mundo dentro de um vagão. Eu sou apaixonado por Olimpíadas. Tem essa visão do mundo sem fronteiras, tão utópico. Durante 15 dias, você enxerga aquilo como mundo ideal."

C&S: Você trabalha em TV, na ESPN Brasil, na Rádio Bandeirantes, escreve para o Jornal da Tarde, tem seu site, e ainda fundou a sua editora, a Panda Books. Tem uma família: é casado e tem três filhos. Onde você encontra tempo pra tudo isso?
Duarte: "Eu sou muito disciplinado. Sou cumpridor de horários. É uma questão de organização. Tenho dia para tudo. E, claro, tenho uma equipe muito competente que me ajuda. Mas eu percebi que o meu lazer se mistura com o meu trabalho. E isso acontece porque eu tenho prazer no trabalho. Quando eu saio com a minha família, a gente nunca vai para os mesmos lugares, sempre queremos conhecer os novos. Todo mundo embarcou na minha."

C&S: Seus filhos lhe perguntam muita coisa?
Duarte: "Perguntam. Teve uma época que eu caí na besteira de dizer que quem fizesse uma pergunta que eu usasse em um livro seria recompensado em dinheiro. Aí eles começaram a fazer uma atrás da outra, e eu resolvi parar. Hoje eles ajudam de graça. (risos) Eles são ajudantes."

C&S: E você acha que o jornalista de hoje em dia tem de ser multimídia? No próprio site do Guia dos Curiosos você já usa uma Web TV e vai lançar agora em abril o Blog. No seu caso, são todas as mídias mesmo...
Duarte: "Hoje em dia é quase uma exigência de mercado. O mercado quer um jornalista que consiga publicar uma notícia, captar uma imagem de onde ele estiver. Eu sempre procurei não ficar para trás. Eu tenho de estar atualizado e ler muita coisa. Tudo isso que eu faço é pensando em não virar um jornalista da antiga. Eu estou o tempo todo me modernizando. A única coisa que eu não tinha entrado ainda era o Blog, mas na próxima semana já vai estar no ar. Então, pelo menos das mídias que existem, eu estou em todas!"

C&S: E essa é uma dica que você deixa para quem trabalha com Comunicação ou quer estudar Jornalismo?
Duarte: "Tinha muito jornalista que tinha uma visão assim: 'Isso não me interessa porque eu cubro política, e isso é esporte.' Então, às vezes você está na frente de um personagem, mas acha que não tem onde publicar e não faz nada! Hoje você tem tantas possibilidades que você se obriga a ser jornalista o tempo todo. Qualquer coisa pode virar uma matéria."

C&S: Tudo é muito integrado....
Duarte: "É. Os Jogos Olímpicos são um evento esportivo, mas tem política, história, economia por trás. E a questão das novas mídias é justamente essa. Não adianta a gente querer ser contra. São aquelas situações que não têm volta. Você tem de se render e saber como o seu trabalho pode melhorar com aquilo."

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